Dulceli Tonet Estacheski

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOCENTE EM HISTÓRIA: ENTRE TEORIA E PRÁTICA
Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski
UNESPAR


Estudantes de licenciatura, ao ingressarem nos cursos, costumam apresentar concepções frágeis em relação à prática da docência. Por um lado, uma parcela ressalta as deficiências de professores e professoras com que tiveram contato durante a sua educação básica, enquanto outra parcela afirma que ingressou no curso de licenciatura justamente pelo exemplo de docentes que marcaram positivamente seu período escolar. As considerações feitas em relação à prática docente ruim, nem sempre vem acompanhadas de argumentos sólidos, frutos de reflexões sérias a respeito das mazelas da educação no país. As disciplinas voltadas ao ensino nos cursos de licenciatura visam promover reflexões amplas, proporcionando o desenvolvimento de um entendimento maior a respeito da prática docente que deve ir além do simples encantamento/descontentamento com determinados/as profissionais. As discussões teóricas realizadas na graduação visam superar essas concepções, por vezes, simplistas em relação à docência, enquanto o estágio objetiva uma experiência prática que não só confirma ou não a vontade de estudantes seguirem na profissão, mas principalmente, que ensina sobre a complexidade de tal escolha.

O Estágio Curricular Supervisionado, como uma etapa obrigatória dos Cursos de Formação de Docentes tem uma carga horária de 400 (quatrocentas) horas, que devem ser distribuídas na segunda metade dos cursos de licenciatura, obedecendo a Resolução CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002, que institui a carga horária dos cursos de licenciatura. São consideradas atividades de Estágio Curricular as ações educacionais de ensino-aprendizagem proporcionadas aos acadêmicos e acadêmicas pela participação em situações reais, realizadas em instituições de Ensino Fundamental e Médio. O fato de que tais atividades só podem ser cumpridas a partir da segunda metade do curso se justifica pela necessidade de um amadurecimento teórico, não apenas em relação aos conteúdos a serem ministrados nas escolas ou colégios, mas referente à docência, ao ensino e à aprendizagem.

Mais do que como ‘obrigatória’, a prática de estágio deve ser entendida como importante para a formação docente. Ela visa proporcionar uma experiência prática na profissão, comportando boa parte das atividades que fazem parte do dia a dia de profissionais da educação, desde o planejamento de ensino, a produção de materiais didáticos, a avaliação escolar e a realidade da sala de aula com sua dinâmica e seus imprevistos.

Em seu texto ‘O estágio de docência como práxis formadora’, Caimi (2002) ressalta que a prática de estágio visa justamente romper com a tão propagada frase “a teoria na prática é outra coisa”, dita por estagiários e egressos de cursos de licenciatura, que privilegiaram apenas ou em maior escala a formação teórica, a racionalidade técnica que desconectada da prática não garante respostas para a realidade escolar. Não há como ‘treinar’ bons professores, isso não existe. Não há como garantir que as teorias e metodologias discutidas na faculdade irão solucionar todos os problemas da educação e que determinadas técnicas de ensino, bem treinadas, terão como resultados a aprendizagem de estudantes, pois a sala de aula é um espaço vivo, dinâmico, por vezes conflituoso, por vezes apático, mas estimulante, pois provocativo para docentes que compreenderam o sentido da profissão e desejam de fato que a socialização dos conteúdos historicamente acumulados ocorra, que estudantes construam saberes, que a aprendizagem aconteça.

Treinamento não é eficaz, formação que integra teoria e prática sim. As teorias não funcionam quando não são compreendidas de fato. Hannah Arendt (1997) já fez o alerta em 1957 em seu texto ‘A crise na educação’, quando critica o que ela chama de aceitação servil e acrítica de modernas teorias pedagógicas, que ao não serem entendidas, não apresentam resultados positivos na prática, e por isso são em seguida trocadas por outras da mesma forma inconsistentes. A aliança entre teoria e prática na formação docente busca romper com tais incoerências, quando confronta as propostas e alternativas para o ensino e a aprendizagem com experiências reais.

Sem a compreensão teórica, a prática será uma repetição de ações vivenciadas.  Estagiários e estagiárias, que reclamam na graduação de experiências negativas com aulas de história em sua educação básica em que se privilegiava o decorar de informações sobre determinados eventos e não a compreensão contextualizada e problematizadora, muito provavelmente ministrarão aulas que seguem esse padrão, pois não compreenderam o sentido, o fio condutor de uma nova dinâmica de ensino que traz a teoria. Por outro lado, o saber teórico fechado em si mesmo desvinculado da prática não permite que o/a estagiário/a tenha a experiência real, que ensina a aplicabilidade teórica. A teoria na prática é a mesma coisa quando existe a compreensão da primeira e o empenho na segunda para que a aprendizagem ocorra.

É preciso estar ciente de que na teoria o uso de diversas linguagens de ensino, como salienta Fonseca (2003) e Bittencourt (2004), como a música, o cinema, a fotografia, e o ensino de história por meio da investigação histórica, como ressaltam Barca (2004) e Schmidt (2009), são eficazes para a aprendizagem histórica de estudantes, pois estimulam a criatividade, o interesse, desenvolvem a capacidade analítica e narrativa; e estudantes precisam de atividades desafiadoras que propiciem o desenvolvimento do pensamento histórico. Porém, isso não significa que na prática, na primeira tentativa de implementação destas teorias, que a receptividade será totalizante: é preciso para além da compreensão clara de tais propostas o compromisso sério com a prática docente, com os alunos e alunas e o desenvolvimento de seu pensamento histórico. Insistir, dar continuidade às atividades, explicar com clareza, ser perseverante mesmo diante das adversidades da sala de aula.

Caimi (2002, p. 49) propõe a lógica “ação-reflexão-ação como estratégia de formação”, salientando a necessidade de uma postura investigativa para o fazer docente colocando o estágio como momento privilegiado de articulação entre teoria e prática. Sugere-se aqui a ampliação de tal lógica para o esquema ‘reflexão-ação-reflexão-ação’. Antes da prática de estágio na escola, acadêmicos/as devem planejar suas ações à luz da teoria: isso significa refletir antes de agir buscando metodologias de ensino que se apresentem como alternativas viáveis para a aprendizagem efetiva de estudantes. O estágio de regência é o momento de colocar em prática tais percepções. Voltar a refletir, após ele, é essencial para avaliação do desempenho do/a estagiário/a, de estudantes do ensino fundamental ou médio que participaram da experiência, e da eficácia ou não das metodologias aplicadas naquela realidade escolar. Tal reflexão deve conduzir a uma nova prática futura que reforce os pontos positivos e altere os pontos negativos de tal experiência. Em suma, o estágio não pode ser encarado apenas como etapa obrigatória dos cursos de licenciatura, deve ser etapa significativa.

Professores/as que pretendem “transformar a sua prática – fragmentada, improvisada, não refletida, cotidiana – em práxis pedagógica” (CAIMI, 2002, p. 49) devem comprometer-se com um método de investigação. A escrita sobre a prática fundamentada na teoria é um caminho possível. O esforço de relacionar a experiência vivida com as propostas teóricas de ensino obriga a refletir sobre as possibilidades e dificuldades enfrentadas. O relatório de estágio, por exemplo, exigido nas primeiras experiências de regência e depois o Trabalho Final de Estágio Supervisionado do curso de História da UNESPAR, campus de União da Vitória tem esse objetivo. Ao descrever as ações realizadas, estagiários e estagiárias ativam a memória da experiência vivida e relatam o que funcionou ou não funcionou na prática. A análise de tais ações faz com que argumentem sobre tais questões, enfrentando a realidade. A exigência de que todo relato de experiência, seja fundamentado na teoria, faz com que não se separe uma coisa da outra, e que o momento final de tal relato, que consiste em reorientar a ação, seja menos frágil, superando tanto a teorização fechada em si mesma quanto a prática irrefletida.

O relato de um acadêmico, em seu Trabalho Final de Estágio Supervisionado, demonstra esta preocupação com a relação entre teoria e prática:

Refletimos que o desafio do estágio seria como construir um pensamento histórico naquela turma tida como indisciplinada. O planejamento da aula teve como prioridade uma aula que se tornasse atraente, em que os alunos participassem da construção do conhecimento, por isso busquei teóricos que aliassem a teoria com a prática. Rüsen (2006), parte da necessidade do aluno construir o seu pensamento histórico a partir de suas experiências, sendo que elas tinham que ter utilidade em sua vida prática. Percebemos que o professor regente já utiliza essa concepção e sempre constrói o conhecimento com os alunos a partir de algo que lhes é comum, dando exemplos do seu cotidiano, relacionando o conteúdo histórico com a vida prática da comunidade que cerca esses alunos. (KZIOZEK, 2014, p. 20)

A sequência de seu relato de experiência demonstra que o mesmo compreendeu a importância da reflexão sobre o trabalho docente, que deve ser constante, do planejar as ações ao avaliar os resultados:

Essa autoavaliação nos fez refletir o quanto crescemos com a prática, conseguir aplicar uma teoria é um dos objetivos dos acadêmicos desde o início da sua faculdade. Percebemos que no princípio esta teoria parecia estar longe da prática, algo surreal, mas com uma bagagem maior de leitura, e com o amadurecimento das ideias ela foi possível. (KZIOZEK, 2014, p. 29)

Conscientes de que nem tudo o que é planejado durante a organização do estágio se configura de forma perfeita em sala de aula, pois se está sujeito aos imprevistos do cotidiano escolar e à subjetividade dos sujeitos da educação, mas de que tal planejamento é essencial, assim como é indispensável a preparação teórica e a pesquisa em torno do tema a ser abordado em sala de aula durante o estágio de regência no ensino fundamental e médio, estagiários e estagiárias do curso de História da UNESPAR, campus de União da Vitória, tem demonstrado em seus trabalhos finais de estágio supervisionado uma visão clara sobre a relevância do estágio como momento indispensável para a formação docente:

O estágio supervisionado é a vivência dessa prática orientada por moldes teóricos desenvolvidos e analisados durante o curso. É o início do desenvolvimento de uma autonomia metodológica que deverá ser construída concomitantemente ao suceder dos anos enquanto profissional.  Logicamente o período destinado a estágios é relativamente curto, mas permite que possamos compreender o funcionamento do sistema de ensino, atentando-se para as subjetividades do mesmo, gerado pela gestão escolar e pelo ambiente escolar. Cabe a nós utilizarmo-nos desse fluxo de aprendizado para corrigir, posteriormente, falhas apresentadas nesse processo bem como aprimorar técnicas que se mostraram eficientes no processo de ensino aprendizagem. (KOVALCZUK, 2013, p. 4)
           
A acadêmica acima mencionada escolheu, como tema de seu estágio final do curso de História, o ensino da história local, trabalhando com estudantes do curso de magistério. Seu objetivo foi trabalhar o tema em si, a história das cidades de Porto União e União da Vitória e também as possibilidades metodológicas para o ensino de tal tema na educação infantil. Com uma boa base teórica, pautando-se principalmente nas ideias de Barca (2004) e sua proposta de ‘aula oficina’, que utiliza do método da história para o ensino e aprendizagem da história, a acadêmica desenvolveu suas atividades e posteriormente refletiu com seriedade sobre elas em seu trabalho final de estágio supervisionado salientando tanto as dificuldades enfrentadas como os sucessos obtidos: 'Minha criticidade me torna capaz de apontar as deficiências, mas o meu empenho e a minha responsabilidade exigem que em contraponto, eu seja capaz de apontar soluções, de fazer da minha conduta, da minha prática, áreas convergentes com meu discurso ideológico'.  (KOVALCZUK, 2013, p. 43)

Convém apontar que, para além dos resultados descritos e analisados pela acadêmica em seu trabalho final, a narrativa de uma estudante do curso de História que neste ano de 2015 está no segundo ano do curso, ou seja, ingressou no mesmo um ano após ter sido aluna nas aulas de estágio no curso de magistério da acadêmica citada acima, ressaltou que a experiência vivida fez com que pudesse perceber que existem outras possibilidades para o ensino da história que estão longe de uma prática ineficaz do estudo do passado pelo passado, da memorização de conteúdos históricos fechados em si mesmos, sem relação com a vida prática de estudantes. Tal relato revela que a experiência do estágio curricular supervisionado pode e deve se configurar em uma ação, que não apenas visa cumprir uma exigência acadêmica, mas que forma, amadurece e estimula a elaboração de novas perspectivas para o ensino de História, não apenas para o acadêmico/a estagiário/a, mas para estudantes que ficam sob sua responsabilidade durante este período e também para docentes da graduação e da educação básica que partilham esse momento de formação e dialogam de forma efetiva sobre a prática docente durante o planejamento do estágio e durante a avaliação do mesmo nas bancas de conclusão de curso.

Fonseca e Silva (2007) no texto ‘Entre a formação básica e a pesquisa acadêmica’ discorrem não apenas sobre a pesquisa e formação docente, mas também nas relações entre a formação e a pesquisa. Para os autores, as lutas do movimento docente e as relações entre formação, profissionalização e pesquisa constituem a identidade do/a professor/a de história. O texto resgata uma trajetória histórica de lutas de docentes de história pelo entendimento da docência, enquanto profissão e pela redemocratização do país, mobilizando a sociedade durante o processo constituinte, em defesa da educação pública, da cidadania e democracia, combatendo desigualdades e injustiças sociais. Ressalta a necessidade de formação permanente e não apenas inicial, nos cursos de licenciatura:

Torna-se necessário situar nossa concepção de formação docente (inicial e contínua) como algo permanente; um modo de ser e estar na profissão, no ofício, atitude permanente e constante de preparação, capacitação para dar respostas adequadas, comprometidas e atualizadas dos fatos, problemas e necessidades da complexa realidade socioeducacional, às ações da vida pessoal e profissional. (FONSECA; SILVA, 2007, p. 25)

A formação docente é encarada como um processo educativo que deve se desenvolver ao longo da vida. Profissionais da educação necessitam dedicar um tempo para o conhecimento, reflexão, crítica e aperfeiçoamento profissional. Essa necessidade deve ser compreendida desde a formação inicial, na graduação. A dedicação à reflexão e aperfeiçoamento deve começar no curso de licenciatura, ser vivenciada nas práticas de estágio e nas aulas voltadas às questões de ensino e aprendizagem e se tornar parte constitutiva da ação docente.

O estágio curricular supervisionado tem a vantagem de conseguir congregar os sujeitos da educação, promovendo um diálogo entre universidade e escola, diminuindo a distância entre o que se discute na academia e as práticas cotidianas escolares. Novas abordagens em relação aos temas, novas possibilidades do uso de fontes históricas em sala de aula, a utilização de novas tecnologias e metodologias de ensino são apresentadas por estagiários e analisadas por experientes docentes da educação básica. Em contrapartida, estes docentes auxiliam na formação dos estagiários, orientando-os no cotidiano escolar e debatendo com a universidade sobre as questões que hoje são realidade na escola, e que não podem ficar de fora da reflexão acadêmica para que a universidade não se feche em si mesma, pesquisando e publicando para as prateleiras, ao invés de ter uma produtividade realmente significativa para a vida prática. O estágio proporciona também o diálogo entre professores/as das disciplinas específicas do curso e professores/as das disciplinas pedagógicas que ao orientarem em conjunto os estagiários e as estagiárias, refletem sobre o ensino dos temas específicos e sobre as melhores possibilidades para se levar para as escolas, na produção de materiais didáticos e planejamentos de aulas a renovação historiográfica e as concepções teóricas sobre a História. E é claro, promove a interação entre acadêmicos/as e estudantes da educação básica. Enquanto os/as primeiros/as podem apresentar a estudantes temáticas e metodologias significativas que revelem o sentido do estudo da história, os/as segundos/as podem revelar para a universidade, tendo como ponte os/as acadêmicos/as suas percepções sobre a disciplina.

Estudantes e docentes da educação básica, acadêmicos/as e docentes da graduação, das disciplinas específicas e pedagógicas, se reúnem nas práticas do estágio curricular supervisionado. Mais do que obrigação curricular, o estágio é possibilidade de relação real entre teoria e prática. É formação docente e momento privilegiado de envolvimento de todos os sujeitos da educação para criar possibilidades reais de melhorias no ensino de História.

REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. A crise na Educação. In: ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1997.
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do projecto à avaliação. In: Para uma educação histórica de qualidade: actas de Quartas Jornadas de Educação histórica. Braga: Centro de Investigação em Educação (CIED)/Instituto de Educação e Psicologia. Universidade do Minho, 2004.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
CAIMI. Flávia Eloisa. O estágio de docência como práxis formadora. In: PADRÓS, Enrique Serra (org.). Ensino de História: formação de professores e cotidiano escolar. Porto Alegre: EST, 2002.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de História. Campinas, SP: Papirus, 2003.
FONSECA, Selva Guimarães; SILVA, Marcos. Ensinar História no século XXI: em busca do tempo entendido. Campinas, SP: Papirus, 2007.
KOVALCZUK, Simoniely Lilian. Eu sou a história: reflexões sobre a importância do ensino de história local para a geração de sentido histórico. Trabalho Final de Estágio Supervisionado. União da Vitória: UNESPAR, 2013.
KZIOZEK, Claudinei José. Formação do pensamento histórico: teoria e práticas aplicadas a partir do tema ‘Sociedade Mineira na época do ouro no Brasil’. Revista Sobre Ontens. Especial LAPHIS – TFES, 2014.
RÜSEN, Jörn. Didática da história Didática da história Didática da história: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis Educativa, Ponta Grossa-PR, v.1, n.1, 15 jul./dez. 2006.
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel (orgs.). Aprender História: perspectivas da educação histórica. Ijuí: Ed. Unijuí, 2009.

PERGUNTAS

Ao afirmar que “(...) isso não significa que na prática, na primeira
tentativa de implementação destas teorias, que a receptividade será
totalizante (...)”a autora concorda comigo que as teorias dão conta
dos bons e dos alunos medianos, mas que pouquíssimas teorias conseguem
alcançar os alunos com deficiências educacionais e/ou que não querem
estar na escola? Os estagiários normalmente criticam os professores
que não dão conta da totalidade dos alunos como se toda teoria desse
conta de todos os alunos. Essa conscientização é feita durante a
graduação? Maria Izabel Nogueira

Resposta:
Ao afirmar que a implementação das teorias não alcança sempre resultados positivos de forma imediata ressalto a necessidade de um compromisso com uma proposta teórica de ensino e aprendizagem que deve se configurar na prática, a médio ou a longo prazo e mais ainda, um compromisso com a prática docente que tem como objetivo que estudantes aprendam, que desenvolvam sua capacidade de pensar historicamente.
Na licenciatura buscamos conscientizar os/as graduandos/as sobre as dificuldades que encontrarão em sala de aula e alertamos para o fato de que o período curto do estágio não lhes possibilita sempre grandes resultados, pois esses são frutos da continuidade, da persistência. Tenho percebido nos relatos de experiência de estagiários/as que tais críticas a "professores
que não dão conta da totalidade dos alunos" deixaram de aparecer. O estágio de coparticipação e de regência lhe dá um panorama do que professores e professoras enfrentam cotidianamente.
Sobre as teorias darem "conta dos bons e dos alunos medianos, mas que pouquíssimas teorias conseguem alcançar os alunos com deficiências educacionais e/ou que não querem estar na escola" eu não posso concordar integralmente. É claro que ninguém pode obrigar a quem não quer, deliberadamente, aprender, a fazê-lo, pois o aprender é pessoal. Não queremos formatar robôs que decorem informações repassadas, queremos formar pessoas que pensem por si mesmas a partir do que aprendem na escola. O que a escola, os/as professores/as, não podem é desistir de estimular a vontade de aprender. Refletir sobre essa realidade de alunos/as desmotivados/as que não conseguem ver na escola nada além de uma obrigação, é urgente. O/a aluno/a aprende quando o objeto de estudo faz sentido para ele/a. Quando é mera função obrigatória, não há interesse. A escola deve ser inclusiva e ser percebida como um espaço que oferece perspectivas. Tem sido? Não. Governos colaboram para que sejam? Não. Como cobrar de crianças e adolescentes interesse por um espaço que é entendido por parte da sociedade como depósito de crianças para que pais possam trabalhar e entendido por governos como despesa e não investimento? Se a própria escola começar a se ver de forma negativa e docentes se desmotivarem em relação à aprendizagem de seus alunos, o que é o objetivo central de seu trabalho, caminhamos para um caos ainda maior.
Sobre estudantes com deficiências intelectuais eu concordo que as licenciaturas estão longe de dar conta de uma formação adequada. Tirando os cursos de Pedagogia, são raras as abordagens feitas sobre a temática durante o período de formação inicial, falha que precisa ser resolvida, e não se pode cobrar do professor ou professora recém-formado/a que saiba de imediato lidar com a situação. Cabe a ele/a a busca por aprender mais para melhor desempenhar sua função e lutar para que melhores condições de trabalho, de estrutura, de formação continuada sejam implementadas na educação pública.

É utópico pensar de tal forma? As utopias nos fazem continuar caminhando e não estagnar-se diante do caos. E nessa continuidade, resultados melhores podem ser conquistados.

40 comentários:

  1. O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOCENTE EM HISTÓRIA: ENTRE TEORIA E PRÁTICA
    Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski
    UNESPAR

    1. Ao afirmar que “(...) isso não significa que na prática, na primeira tentativa de implementação destas teorias, que a receptividade será totalizante (...)”a autora concorda comigo que as teorias dão conta dos bons e dos alunos medianos, mas que pouquíssimas teorias conseguem alcançar os alunos com deficiências educacionais e/ou que não querem estar na escola? Os estagiários normalmente criticam os professores que não dão conta da totalidade dos alunos como se toda teoria desse conta de todos os alunos. Essa conscientização é feita durante a graduação?
    Maria Izabel Nogueira – Campo Mourão

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski12 de maio de 2015 às 06:51

      Ao afirmar que a implementação das teorias não alcança sempre resultados positivos de forma imediata ressalto a necessidade de um compromisso com uma proposta teórica de ensino e aprendizagem que deve se configurar na prática, a médio ou a longo prazo e mais ainda, um compromisso com a prática docente que tem como objetivo que estudantes aprendam, que desenvolvam sua capacidade de pensar historicamente.
      Na licenciatura buscamos conscientizar os/as graduandos/as sobre as dificuldades que encontrarão em sala de aula e alertamos para o fato de que o período curto do estágio não lhes possibilita sempre grandes resultados, pois esses são frutos da continuidade, da persistência. Tenho percebido nos relatos de experiência de estagiários/as que tais críticas a "professores
      que não dão conta da totalidade dos alunos" deixaram de aparecer. O estágio de coparticipação e de regência lhe dá um panorama do que professores e professoras enfrentam cotidianamente.
      Sobre as teorias darem "conta dos bons e dos alunos medianos, mas que pouquíssimas teorias conseguem alcançar os alunos com deficiências educacionais e/ou que não querem estar na escola" eu não posso concordar integralmente. É claro que ninguém pode obrigar a quem não quer, deliberadamente, aprender, a fazê-lo, pois o aprender é pessoal. Não queremos formatar robôs que decorem informações repassadas, queremos formar pessoas que pensem por si mesmas a partir do que aprendem na escola. O que a escola, os/as professores/as, não podem é desistir de estimular a vontade de aprender. Refletir sobre essa realidade de alunos/as desmotivados/as que não conseguem ver na escola nada além de uma obrigação, é urgente. O/a aluno/a aprende quando o objeto de estudo faz sentido para ele/a. Quando é mera função obrigatória, não há interesse. A escola deve ser inclusiva e ser percebida como um espaço que oferece perspectivas. Tem sido? Não. Governos colaboram para que sejam? Não. Como cobrar de crianças e adolescentes interesse por um espaço que é entendido por parte da sociedade como depósito de crianças para que pais possam trabalhar e entendido por governos como despesa e não investimento? Se a própria escola começar a se ver de forma negativa e docentes se desmotivarem em relação à aprendizagem de seus alunos, o que é o objetivo central de seu trabalho, caminhamos para um caos ainda maior.
      Sobre estudantes com deficiências intelectuais eu concordo que as licenciaturas estão longe de dar conta de uma formação adequada. Tirando os cursos de Pedagogia, são raras as abordagens feitas sobre a temática durante o período de formação inicial, falha que precisa ser resolvida, e não se pode cobrar do professor ou professora recém-formado/a que saiba de imediato lidar com a situação. Cabe a ele/a a busca por aprender mais para melhor desempenhar sua função e lutar para que melhores condições de trabalho, de estrutura, de formação continuada sejam implementadas na educação pública.

      É utópico pensar de tal forma? As utopias nos fazem continuar caminhando e não estagnar-se diante do caos. E nessa continuidade, resultados melhores podem ser conquistados.

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  2. Gustavo Silva de Moura10 de maio de 2015 às 15:22

    Professora, particularmente vejo que a temática ensino de história não e apreciada em trabalhos monográficos por estudantes de licenciatura, tomo como exemplo o Piauí estado em que vivo atualmente e que me graduei, onde somente um aluno entre dez desenvolveu uma temática voltada ao ensino de História. A senhora acha que a falta de programas de pós-graduações acadêmicas voltadas para o ensino de história, afetam a produção e as relações entre prática e teoria nas licenciaturas em História?
    att.
    Gustavo Silva de Moura
    mouragustavo80@gmail.com

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski12 de maio de 2015 às 06:50

      Essa é, infelizmente, uma realidade não vivenciada apenas no Piauí. A experiência do curso de história da UNESPAR/UV é a mesma. Temos raras monografias que se ocupam do tema ensino de História. Uma das explicações pode ser o fato de termos dois trabalhos finais de curso: a monografia e o trabalho final de estágio supervisionado. Como estudantes sabem que terão que escrever sobre o ensino de qualquer forma, na monografia escolhem outra temática. Mas não considero essa uma resposta suficiente. Gostaria de ver mais trabalhos de pesquisa com a temática ensino de história. Acredito que a existência mais programas de pós-graduação na área seria importante, pois esse estímulo à pesquisa aproximaria muito mais a academia do ambiente escolar, fazendo com que este se tornasse um campo de pesquisa e abrindo o olhar da academia para o cotidiano escolar de forma mais expressiva superando uma produção teórica fechada em si mesma. Ganha a universidade, ganha a escola.

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  3. Gostaria de saber como devemos fazer para tornar as aulas de história mais atrativas, interessantes, utilizando as tecnologias que o mundo nos proporciona, sendo que os alunos tem como a disciplina de história só teoria, como fazer para despertar atenção desses alunos para a disciplina de história tirar da mente deles que essa matéria é só coisa do passado (velha), mostrar para eles o sentido da história para que eles entendem que o nosso passado está ligado ao nosso presente.
    Patrícia Tatara da Silva.

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski12 de maio de 2015 às 06:43

      Umas das perspectivas teóricas que, em minha opinião, mais responde a esta reflexão é o pensamento de Jörn Rüsen que considera que o objeto do estudo da história não é o passado, mas o presente. É a partir das inquietações do presente que olhamos para o passado para reconstruí-lo encontrando compreensão, respostas, que nos permitam perspectivar o futuro. Quando olhamos para a história dessa forma, ela faz sentido para nós. Precisamos fazer com que os alunos e alunas em sala de aula percebam o sentido do estudo da história. A história ensinada tem que ter significado para a vida prática dos/as estudantes. Isso se faz pela constante relação passado/presente no trabalho com os temas. Metodologicamente, o uso das diversas tecnologias e de diferentes linguagens de ensino, sem dúvidas torna o estudo da história mais interessante e também mais prático. Importante destacar que as diferentes linguagens (música, quadrinhos, filmes, imagens...) não devem ser usadas apenas como ilustração ou outra forma de narrativa desvinculada da ação discente. Para que o uso de tecnologias e linguagens seja de fato eficiente para a aprendizagem, estudantes devem trabalhar com elas na investigação histórica, devem construir suas interpretações das fontes e suas narrativas históricas. A aula de história deve ser um espaço de construir saberes e não simplesmente de receber informações sobre o passado.

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  5. A que se deve ou de onde vem a real descrença no uso do aporte teórico – operacionalizando métodos e metodologias voltadas para a complexa lógica dialética – para a formação dos conceitos da disciplina de História na prática em sala de aula? Seria somente pelo fato de nós professores termos formação docente (inicial e contínua) e formarmos nossos/as alunos/as, historicamente, na lógica formal, com aceitação servil e acrítica de modernas teorias pedagógicas? (professora Cristina M. B. Teixeira, do Curso de Formação de Docentes – curso profissionalizante do Ensino Médio)

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski12 de maio de 2015 às 07:42

      Penso que a descrença no aporte teórico se dá muitas vezes pela necessidade de resolução imediata de problemas, de situações cotidianas, pela preocupação grande com o "como" fazer que toma o lugar da reflexão sobre o "por que" fazer. Nesse sentido, opções metodológicas que apresentem resultados mais rápidos parecem significar mais do que percepções teóricas complexas. Mesmo que esses resultados não signifiquem a aprendizagem de estudantes. O que percebemos disso é que essa "aceitação servil e acrítica de modernas teorias pedagógicas", tema abordado brilhantemente por Hannah Arendt no texto 'A crise da educação', é sintoma do imediatismo. Estudantes de licenciatura ou da formação docente de nível médio, nem sempre estão realmente preocupados em pensar as teorias pedagógicas, o fazem para cumprir com as obrigações das disciplinas. Isso faz com que a compreensão de tais teorias se dê de forma limitada. É uma falha na formação? Sim. Nós docentes da formação de professores/as somos responsáveis? Sim. Tanto quanto os/as estudantes. A nossa abordagem teórica em sala de aula na formação docente deve se dar de forma não desvinculada da prática para que estudantes não a assimilem de tal forma. A formação docente deve formar para a capacidade crítica das percepções teóricas, deve formar para o entendimento do sentido da teoria na prática docente e deve formar para a autonomia responsável na docência.

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  6. Professora Dulceli, gostaria de perguntar o porquê desse abismo entre o conhecimento acadêmico e o ensino, no caso da disciplina histórica, que é repassado por alguns professores, digamos, mais experientes, pois como percebi, na época em que fiz estágio, e ainda percebo, agora como professor, que os docentes mais velhos não se preocupam tanto em criar novos mecanismos ou novas metodologias, dentro da sala de aula, que possam despertar mais o interesse, por parte dos alunos?Meu nome é Bruno Estumano.

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski12 de maio de 2015 às 10:08

      Esse abismo é construído como uma via de mão dupla. Por um lado temos professores (e não apenas os mais velhos) que acreditam que o diploma e alguns cursos de formação obrigatórios nas semanas pedagógicas são suficientes para sua capacitação profissional. Os argumentos apresentados para não irem além disso são vários, a deficitária estrutura da educação pública, carga horária excessiva, falta de estímulo à capacitação, salários baixos, entre outros. Nessas condições, muitos pensam que o pouco que fazem já é muito. Por outro lado, universidades responsáveis pela formação docente nem sempre atuam junto à educação básica para além dos estágios. Cursos de extensão deveriam ser ampliados para levar o conhecimento acadêmico ao chão da escola e para produzir novos saberes a partir desse lugar. O que não pode ser feito é o jogo de empurra, apontando sempre o outro como responsável pelas mazelas educacionais e a transformação de argumentos válidos em desculpas constantes. Ao escolhermos a docência sabíamos que estávamos escolhendo uma profissão que nos exigiria o estudo contínuo. O problema é quando as pessoas encaram a docência como emprego e não como profissão. No emprego, basta cumprir horário para receber salário. Na profissão docente, temos o compromisso com o ensino e a aprendizagem e neste caso, precisamos construir pontes e não abismos. Novamente em via de mão dupla, academia e escola em parcerias para uma educação de qualidade.

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  7. Sabemos que a Pratica e a Teoria ambas andam juntas para se completarem,mais ainda existem algumas pessoas que digam que “a teoria na prática é outra coisa”,como mudar esse ponto de vista?
    como mostrar para eles que na verdade é apenas uma maneira diferente de se explicar aquilo que iremos viver no decorrer de nossa profissão?
    Marilys Iris de Almeida

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski12 de maio de 2015 às 10:32

      A teoria fundamenta, orienta a nossa prática. A fala comum de que "a teoria na prática é outra coisa" reflete um descontentamento com resultados que não se apresentem de forma imediata e é mais fácil dizer que a teoria não se aplica, do que compreende-la bem, para aplica-la bem e com constância. Não podemos mudar o ponto de vista do outro, isso cabe ao outro. O que podemos é atuar na formação docente criando possibilidades para a compreensão clara da importância da teoria na prática docente. A apresentação de resultados que demonstrem a aplicabilidade e o sentido da teoria no cotidiano escolar é importante para isso e daí vem a necessidade constante de pesquisas que tenham como objeto a escola, o desenvolvimento do pensamento histórico de estudantes, a ação docente.

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  8. Uma ótima reflexão sobre o ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOCENTE EM HISTÓRIA, todo estágiario deveria ler este texto para fazer uma relação ENTRE TEORIA E A PRÁTICA, no entanto não existe uma TEORIA ou PRÁTICA, que atinga a totalidade dando conta do processo de ENSINO APRENDIZAGEM em qualquer modalidade de ensino, pois as diferenças devem ser respeitadas e elencadas em qualquer forma de ensino, assim é importante o estágio para o professor/professora encontrar seu caminho no processo de ensinar o aluno a aprender. Desta forma qual o caminho mas próximo entre a teoria e a prática?

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski12 de maio de 2015 às 10:50

      Obrigada pelo comentário positivo em relação ao texto. De fato, não existe uma prática, uma metodologia, uma técnica que de conta de todas as situações do ambiente escolar, pois esse ambiente é complexo. Temos escolas diferentes em uma mesma cidade, temos salas de aula diferentes em uma mesma escola e temos estudantes diferentes em uma mesma turma. Não podemos, por exemplo, escolher o uso do cinema como linguagem de ensino de história e pensar que todos/as os/as estudantes aprenderão da mesma forma, ou aproveitarão a atividade com o mesmo interesse. O que não significa que a metodologia não seja adequada, ela apenas não pode ser a única utilizada. Quanto à teoria, quando assumimos uma proposta teórica, compreendendo bem o que ela significa, nos pautamos por ela para a nossa ação na prática. Por exemplo, compreendo que a consciência histórica é base e objetivo do ensino. Teoricamente, sei definir o que entendo por consciência histórica, aceito o fato de que estudantes tem consciência histórica (base de ensino) e que precisam desenvolve-la (objetivo de ensino). Essa é minha teoria. Como desenvolvê-la na prática? Escolhendo atividades que estimulem o desenvolvimento do pensamento histórico dos/as estudantes: análise de fontes, contextualização com o texto histórico, construção de narrativas... O caminho mais próximo entre teoria e prática, é a compreensão do que é teoria, do que é metodologia, e a vontade de colocar isso em prática.

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    2. Obrigada pela resposta, é isso a vontade de colocar em prática, as teorias e metodologias faz a diferença.

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    3. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski13 de maio de 2015 às 15:41

      Faz sim... é o primeiro passo, a perseverança, a continuidade do trabalho, é o próximo.

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  9. Contextualizando

    Um aluno concluiu o curso de graduação em 2014. O mesmo se apropriou teorias importantes para pôr em pratica em sua disciplina. Ano letivo de 2015, tem a oportunidade de começar a lecionar para algumas turmas do ensino fundamental e médio, como profº contratado.

    Pergunta: O curso de graduação conseguiu alcançar os objetivos com seus educandos de colocar este futuro professor em sala de aula com as condições básicas para lecionar, onde o mesmo consiga unir a teoria/prática?
    Marcianita Siqueira Bine

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    1. Olá, Marcianita
      Acredito que em grande parte essa assertiva não se faz cumprir na graduação. Todos nós, ao fazermos a graduação, temos um panorama bem diferente da realidade de sala de aula e somente após anos de prática é que alguns de nós conseguem continuar ministrando aulas com a certeza de que aliou teoria e prática. A grande maioria pula daqui para ali tentando pelo menos alcançar alguns alunos.
      Joana d'Arc Conrado

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  10. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski12 de maio de 2015 às 11:13

    O curso de graduação não dá conta de todos os conteúdos históricos que deverão ser trabalhados em sala de aula na educação básica. Por exemplo, em nosso curso não temos uma disciplina específica sobre Cultura indígena brasileira. O tema é trabalhado ao longo das disciplinas de história do Brasil, história do Paraná ou antropologia. Não é suficiente. Os/as graduados/as terão que dar conta de seguir com os estudos para melhor ensinar. O estágio de regência, como mencionado no texto, é fundamental, mas é um período muito curto para preparar o/a estagiário/a para toda a complexidade da vida escolar. Isso é fato. As discussões teóricas em relação ao ensino ocorrem durante toda a graduação. Conseguimos com isso que todos/as os/as universitários compreendam, critiquem, se posicionem de forma teórica consciente? Não. O curso de graduação é limitado. Mas, ele oferece as condições básicas para lecionar, para que o/a recém formado/a possa unir teoria e prática? Claro. Porque o curso não ensina todos os conteúdos, mas ensina a pesquisar, não coloca diante de todas as realidades escolares na prática, mas as apresenta em alguma medida e faz refletir sobre elas. A graduação é formação inicial. É como você disse, a condição básica para a docência. Me lembro de sair chorando de minha primeira turma de 5ª série (na época, hoje 6º ano), desesperada porque o planejamento não tinha funcionado como eu esperava numa turma extremamente agitada. Sempre conto essa experiência a meus alunos e alunas de graduação. Saí da faculdade com tanta expectativa, e a realidade bateu na minha cara. Constatei que seria mais difícil do que pensava, mas assumi que não seria impossível. O objetivo era ensinar história, então voltei, mudei o método, a abordagem, e que bom que na graduação tive professores que me ensinaram a insistir, a querer melhorar, a querer aprender mais e me ensinaram a autonomia. O segundo bimestre naquela 5ª série, foi bem melhor em termos de ensino para mim e em termos de aprendizagem para os/as alunos/as.

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  11. Professora talvez eu já tenha feito essa pergunta em outras oportunidades, mas porque nosso curso de Licenciatura tem pouca ênfase na licenciatura em si e vejo que se prioriza mais a pesquisa? Sei que como professores precisamos estar sempre se aprimorando, absorvendo coisas novas,pesquisando, mas eu sinto falta de disciplinas mais voltadas para a prática em sala de aula. Será que minha visão do nosso curso ainda é um pouco deficiente? E que sim ele está bastante voltado para a licenciatura? Noeli.

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  12. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski12 de maio de 2015 às 13:17

    Noeli, em termos de carga horária o curso se adéqua ao exigido. O que temos discutido em relação à possível mudança na matriz é uma melhor distribuição das disciplinas voltadas ao ensino de história ao longo do curso, iniciando já no primeiro ano e não apenas no segundo, como ocorre agora. A proposta é fazer com que graduandos/as entrem em contato com tais reflexões o quanto antes para que não tenham essa percepção de que uma área (pesquisa) é mais valorizada do que a outra (ensino).

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  13. Essa carga de 400 horas,não seria demasiadamente longa? Uma carga menor e enxuta não traria um rendimento melhor ao estagiário? Marineide da Silva Sousa
    marineidesousa34@gmail.com

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski13 de maio de 2015 às 15:37

      A carga de 400 horas é dividida entre atividades de pesquisa, elaboração de material didático, planejamento de aulas, estágio de coparticipação, estágio de regência e relatórios de experiência. Distribuídas dessa forma essas horas são adequadas para tais atividades. Se pensarmos numa redução, teríamos prejuízo na formação, pois se correria o risco de ocupar o tempo com atividades apenas práticas e não reflexivas e de planejamento.

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  14. Em se tratando de formação docente, qual sua opinião sobre o PIBID?

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski13 de maio de 2015 às 15:46

      Todos os programas que permitem o desenvolvimento de projetos que aproximem estudantes de graduação da escola, para além do estágio obrigatório/necessário, como o PIBID, o Universidade sem Fronteiras (PR), são muito positivos. O contato com a realidade escolar, com estudantes da educação básica e com professores/as da educação básica lhes traz muito mais aprendizagem e prática.

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  15. A prática de ensino é um período fundamental para a formação do aluno estagiário, no entanto não se pode desperdiça-lo. Quais as orientações necessárias que o professor supervisor deve estar atento?

    Rosilene Candido de Azevedo

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski14 de maio de 2015 às 04:35

      Esta é uma boa pergunta Rosilene. O/a professor/a supervisor é sujeito muito importante nesse momento da formação docente, pois é ele/a que acompanhará de forma mais efetiva a prática do/a acadêmico/a estagiário/a. As considerações do/a supervisor/a em relação ao planejamento de estágio, sugerindo alterações necessárias para um melhor trabalho com determinada turma são importantes. Na academia podemos considerar o planejamento adequado, mas sem o conhecimento real da turma não temos como saber se tais atividades realmente contribuirão com a aprendizagem daqueles/as alunos/as. Aqui, nós entregamos sempre ao/à professor/a supervisor/a uma lista com itens a serem observados no trabalho do/a estagiário que vão desde a responsabilidade na prática docente (pontualidade, organização) ao domínio do conteúdo a ser ministrado, dos recursos didáticos selecionados e à prática docente em si (postura em sala, dinamismo, atenção aos alunos e alunas, respostas adequadas às intervenções de alunos e alunas em sala).

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  16. Olá professora Dulceli, apreciei muito este texto sobre o estágio supervisionado, em se tratando da prática docente as idéias aqui apresentadas devem ser aplicadas a todas as áreas da ação docente para que o professor tenha uma compreensão maior do seu trabalho em sala. Qual deve ser a postura do estagiário ao se defrontar com a prática pedagógica e com a realidade escolar ? Quais questões devem nortear esta vivência ? Que aspectos da realidade escolar precisam ser compreendidos ?

    Orlando Marcelo Nalin Busignani

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski14 de maio de 2015 às 04:51

      Obrigada Orlando. A postura deve ser de responsabilidade com a prática. Não se trata apenas de cumprir uma etapa obrigatória da graduação, mas de ensinar às crianças ou adolescentes que estão naquela turma onde irá estagiar. A realidade escolar é complexa e deve-se estar ciente disso. Não existem respostas prontas para todas as questões com que irão se defrontar. O bom preparo, o bom planejamento, traz maior segurança, pois mesmo que precise ser alterado no momento da prática devido a questões cotidianas buscando formas de abordagem que melhor se adequem à turma, a pessoa que se preparou bem (domínio do conteúdo, objetivos claros...) consegue contornar de melhor forma as situações cotidianas. As escolas são múltiplas, há estudantes motivados e desmotivados, situações de violência, de indisciplina, que por vezes pode ser fruto de questões sociais e por outras pode ser fruto de uma dinâmica escolar que não mais atende às pessoas que ali estão. Não podemos ser iludidos de que tudo será perfeito como colocamos no papel e nem descrentes na educação, achando que nada mais adianta, então qualquer coisa serve.

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  19. Ola Dulceli.Tudo bem?
    Gostaria de lhe agradecer pelo texto.Para mim ,que ainda irei participar de estágios ,foi um texto muito explicativo e me inteirou de como devo agir.
    Gostaria de lhe perguntar:

    Quando se faz um estagio e nem sempre acontece o que se programou para a aula ou mesmo a experiência não foi agradável pala o graduando,isso depende de qual escola o estagio esta acontecendo???
    Seria bom esperar o inesperado,independente de ser estagio na rede publica ou privada?Ou em escolas privadas ,os alunos interagem melhor com o estagiário e seus métodos históricos utilizados???

    Muito obrigado,


    Wander Alexandre Araújo Miranda. Bauru-SP

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski14 de maio de 2015 às 05:02

      Que bom que o texto lhe ajudou Wander. Podemos dizer que a escola é o lugar do inesperado, seja ela pública ou privada. Aquilo que programamos em nosso planejamento de estágio na maioria das vezes não se configura na prática em sua totalidade. Lidamos com pessoas, que são diferentes, que reagem diferente do que imaginamos em nosso planejamento. Por vezes, uma aula preparada com determinada quantidade de assunto e atividades não é cumprida na íntegra, pois estudantes questionam, participam, estendem o diálogo e não há tempo para tudo o que planejamos, o que é ótimo. Em outras situações, pensamos que tal tema originará debates e a apatia da turma não corresponde. É preciso alterar a abordagem da aula, desenvolver outra atividade para que o estudo seja mais significativo para os/as estudantes. Isso sem falar das questões de indisciplina, do fato de um/a estagiário/a na sala lecionando no lugar do/a professor/a regente ser um fator que desperta nos/as estudantes sentimentos diversos. Podem se interessar pela novidade ou podem querer 'testar' o novo. Isso pode ocorrer tanto na escola privada ou pública. O que oriento meus alunos e alunas a fazerem é escolher escolas diferentes para realizar seus estágios nos diferentes momentos. Aqui fazemos três estágios de regência durante a graduação. A escolha de escolas diferentes para tais atividades ajuda a ter contato com dinâmicas diferentes, em minha opinião isso ajuda na formação.

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  20. Ao afirmar que“ Insistir, dar continuidade às atividades, explicar com clareza, ser perseverante mesmo diante das adversidades da sala de aula.”a autora não estaria querendo um super profissional, que está em extinção, devido ao retorno que o professor obtém tanto do ponto de vista dos alunos, da sociedade e dos próprios governantes em nível estadual e federal?
    Joana d'Arc Conrado

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski14 de maio de 2015 às 05:27

      Concordo que o retorno que temos tido na docência por parte da sociedade e de governos tem sido desanimador. No Paraná nesse momento temos vivido o total descaso pela educação, seja de nível básico ou superior. O governo acha que educação é despesa e não investimento e boa parte da sociedade acha que escola é depósito de crianças e adolescentes e não se importa com o estado em que a escola (ou universidade) esteja, desde que o filho ou filha fique lá e não em casa ou na rua, aprendendo algo ou não. É difícil trabalhar assim. É difícil inclusive ter motivação para entrar em uma sala de aula, como uma aqui de minha cidade que iniciou o ano com 60 estudantes, isso na educação básica e não na graduação! Como ensinar e como aprender? Então, não, não quero um/a super profissional. Quero ser professora e assumir minha responsabilidade por ensinar e enfrentar as questões impostas a cada dia para a profissão que eu escolhi. E ao me perguntarem o que fazer na docência, eu respondo a partir desse meu entendimento. Não somos super profissionais, não somos sacerdotes ou sacerdotisas, docência não é missão ou dom... Docência é profissão, para a qual nos qualificamos. E uma profissão desvalorizada. É preciso o esforço contínuo para mudar essa realidade. Por um lado, o empenho para que governos cumpram com sua obrigação. Por outro o trabalho diário em sala para que estudantes entendam que estão ali por direito e não por obrigação. Quando afirmo que é preciso insistir, dar continuidade às atividades, mesmo diante das adversidades, afirmo que está claro que dificilmente conseguimos resultados imediatos, é preciso continuidade para melhores resultados a médio ou a longo prazo. Quando escuto que professores/as diante do desinteresse de estudantes e de adversidades em sala de aula devem dar aula para os cinco que prestam atenção e o restante deve ser ignorado porque não adianta, porque não aprenderão mesmo, porque não temos como resolver isso, penso que nos perdemos, porque se a escola abandona sua função que é dar oportunidade de conhecimento às pessoas e se professores/as abandonam seu esforço por ensinar e sua vontade de que os alunos e alunas aprendam estamos dizendo aos governos e à sociedade que estão certos.

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  21. Valeria Taborda de Almeida14 de maio de 2015 às 13:33

    Como relacionar em sua opinião teoria e prática, experiência vivida e conhecimento teórico, dentro de uma sala de aula, especialmente em uma aula de história? Valeria Taborda de Almeida

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski15 de maio de 2015 às 05:10

      Valéria, ao entramos em sala de aula não deixamos o que somos, o que pensamos, o que estudamos do lado de fora. Então unir teoria e prática, experiência vivida e conhecimento, é mais simples do que parece. Tendemos a pensar a teoria como algo muito distante e gosto das ideias de Jörn Rüsen que a vê como o fio condutor que dá sentido a nossas narrativas. Estudamos durante a graduação e continuamos estudando História e vamos construindo uma perspectiva de seu sentido que nos acompanha. Temos uma concepção de História, a partir das teorias estudadas, isso faz com que ao explicarmos, ao narrarmos a história, temos como base de nossa narrativa essa ideia de história. Em sala de aula, quando ensinamos conscientes do que estamos fazendo e de onde queremos chegar com a explicação que fazemos, o fazemos a partir dessa nossa concepção teórica. Em relação às teorias pedagógicas, o mesmo ocorre, a teoria assimilada nos faz pensar no sentido do ensino e da aprendizagem e na função dessa prática. Conscientes disso, escolhemos metodologias que nos façam caminhar para a realização dessa função, para o alcance dos objetivos que a partir de uma teoria traçamos. Esse "como relacionar", portanto, parte do entendimento claro da teoria que passará a fazer parte de nossas narrativas, de nosso modo de ensinar, e da metodologia selecionada para o trabalho em sala de aula.

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  22. Rafael Moura Roberti15 de maio de 2015 às 04:16

    Colegas de faculdade e eu acompanhamos durante nossa formação o mal preparo das escolas para receber os estagiários e a boa ou má vontade dos professores vinculada muito mais à personalidade do professor que à necessidade/possibilidade oferecida pelo processo de formação do professor.Você vê como positiva a ideia de que a faculdade deveria se "conveniar" com algumas escolas afim de oferecer uma real experiência?!

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    1. Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski15 de maio de 2015 às 04:57

      Rafael, primeiramente, sinto muito pela experiência ruim na recepção de estagiários/as por parte de algumas escolas ou professores/as. Em nossa região, felizmente, não temos vivido esse problema. As escolas públicas são positivamente receptivas para receber estagiários/as e professores/as também. As escolas privadas, em sua maioria não permitem estágios, mas isso não prejudica, considerando que há várias escolas públicas que possibilitam a prática. O que fazemos é estabelecer um contato contínuo com professores/as supervisores/as de estágio nas escolas, esse diálogo resolve conflitos, orienta a prática e as parcerias na formação docente tem sido produtivas. Professores/as reconhecem que em seu momento de formação inicial também precisaram estagiar e agora tem a oportunidade de contribuir com a formação de novos/as docentes e as escolas reconhecem a importância do estágio, pois os/as estagiários/as que recebem podem ser seus/uas futuros/as profissionais da educação. Quanto a estabelecer convênios com algumas escolas para a prática de estágio, percebo algumas questões que devem ser pensadas: que e quantas escolas seriam necessárias? Como se daria essa escolha? Escolas idealizadas para a prática de estágio podem não permitir o contato de estagiários/as com a complexidade da vida escolar. Escolas em número limitado também correm o risco de atuarem por muito tempo com estagiários/as lecionando em lugares de professores/as regentes e essa transitoriedade de pessoas lecionando para uma turma, quando intensa, não é positiva para a continuidade de um trabalho para o desenvolvimento do pensamento histórico de estudantes. Então, existindo a necessidade de estabelecer tais convênios, penso que tais questões devem ser pensadas.

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